Pederneira - Nazaré

Terra de pescadores desde o século XII, era denominada então Seno Petronero, que significa Golfo da Pederneira. Situava-se, nessa época, mais para o interior e era a pesca na Lagoa a fonte de riqueza da vila. Desenvolvida, no final do século XV, com a chegada dos pescadores da assoreada e despovoada vila de Paredes, foi um dos mais importantes portos de mar dos Coutos do Mosteiro de Alcobaça.
Sede de concelho, a Pederneira era, a seguir a Alcobaça, a vila mais populosa e produtiva dos domínios de Cister.
O Rei D. Manuel I concedeu-lhe Foral em 1514. Na época áurea dos Descobrimentos Portugueses – séculos XV e XVI – foi um dos mais activos estaleiros navais do reino, de onde saíram muitas naus e caravelas. Pelo porto da Pederneira eram escoadas mercadorias e as madeiras do Pinhal do Rei, para a capital e além-mar.
Da sua população de pescadores foram recrutados muitos bravos marinheiros, destacando-se o mítico calafate e mareante Bastião Fernandes, que terá sido marinheiro na Rota das Índias.
O desenvolvimento do Sítio e o progressivo afastamento do mar, devido ao assoreamento da Lagoa e ao aparecimento da nova praia, levaram à decadência da Pederneira, em finais de setecentos. Nem a vinda dos Ílhavos e de outros pescadores e marítimos da zona da Ria de Aveiro para a vila lhe deu ânimo. Lentamente os seus habitantes vieram fixar-se na recente enseada.
Após um longo período de algum abandono, lentamente a Pederneira recobrou a vida ao longo do século XX.
Sossegada e agradável, a Pederneira é o miradouro atento do mar e do casario da Praia, guardiã de memórias de outros tempos, merece uma visita atenta.

 IGREJA MATRIZ DE SANTA MARIA DAS AREIAS E S. PEDRO DA PEDERNEIRA

(Síntese Histórica)¹

A Pederneira foi uma das vilas mais prósperas e ricas dos antigos Coutos de Alcobaça, ao que tudo indica já existia como povoado à época da fundação do Mosteiro de Alcobaça, sendo referida na carta de Doação dos Coutos feita em 1153 por Dom Afonso Henriques a São Bernardo de Claraval.

A Pederneira situar-se-ia então a sul da sua actual localização, junto da desaparecida Lagoa da Pederneira, vasto lençol de águas interiores com ligação ao mar, tendo a transferência de localização ocorrido provavelmente no século XV, como consequência do assoreamento da lagoa.

O Bispo de Lisboa Dom João Martins Soalhães, a 9 de Novembro de 1295, deu limites às freguesias dos Coutos de Alcobaça, anexando à vila da Pederneira a Serra da Pescaria, a Granja, e o Valado com os seus termos.

Em 1321 fez-se o primeiro contrato de aforamento das suas terras, vulgarmente chamado Carta de Povoação da Vila da Pederneira, em que se declararam os seus limites e confins. El-rei D. Manuel deu-lhe novo foral em 1514, e por ele foi elevada a vila.

Burgo mais populoso dos Coutos no século XVI, devido aos importantes estaleiros que aí funcionaram, chegando a ser considerado como o segundo mais importante estaleiro naval do reino à época dos descobrimentos.

A Pederneira já em 1195 tinha Igreja Paroquial, e existia com Beneficiados em 1224. A sua localização era a sul da actual, no espaço onde hoje se encontra o cemitério.

Almeida Salazar no Memorial da Real Casa de N. Senhora de Nazareth, tomo II, afirma acerca da actual Igreja Matriz da Pederneira: tem aquela vila uma boa, e majestosa Igreja Matriz que em outro tempo foi Palácio ou casa de recreio de sua Majestade o Senhor Cardeal – Rei [D. Henrique] quando foi Abade de Alcobaça, onde todos, ou quase todos os anos vinha passar os verões; e dizem que depois de subir ao trono português a deu à Colegiada e Mesa da Confraria do Santíssimo, para nele se fazer a Igreja Matriz, visto que a antiga era muito pequena².

Tem a dita Igreja 5 altares em talha dourada e policromada do século XVII/XVIII. Incluindo o retábulo do altar-mor, tem dois altares laterais e dois co-laterais na nave, possuindo ainda a tribuna da Confraria do Santíssimo Sacramento.

Merece particular destaque o revestimento azulejar, do século XVII que cobre toda a nave e capela-mor.

Na nave, até ao nível do coro, os azulejos são de padrões de maçaroca. Este paramento é interrompido por pequenos painéis policromes, com emblemas e alminhas, rodeados de frisos de cabeças de querubins amarelas, destacadas de fundo azul. Na parte cimeira o revestimento é composto por azulejos de tipo tapete.

Na capela-mor, junto ao retábulo e de cada um dos lados, merecem particular destaque dois painéis iguais com a cruz antoniana e uma inscrição “ESTA CAPELA MANDARAM AZULEJAR OS DEVOTOS DE SANTO ANTÓNIO 1637”³.

 

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¹ Texto elaborado pelo Arquivo Histórico da Confraria de Nossa Senhora da Nazaré.

²Jozé de Almeida Salazar, Memorial da Real Casa de N. Senhora da Nazareth, antiguidades do seu Sítio, da Vila da Pederneira, dalguns logares de seu termo e doutros cincumvizinhos, 1842.

³J.M. dos Santos Simões, Azulejaria em Portugal do século XVII, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2.ª edição de 1997.

Pelourinho - Fóssil da Pederneira


 

Porção de tronco silicificado de uma gimnospérmica, tendo sido erigido em substituição do antigo pelourinho manuelino. Apresenta uma história tafonómica diversificada e uma importância cultural intimamente relacionada com a vila da Pederneira. É um dos monumentos mais relevantes da Nazaré.

A designação desta vila da Pederneira poderá ter tido origem neste tronco de conífera fossilizado e encontrado na região. Este fóssil silicificado poderá ter sido utilizado pelo Homem do Neolítico como menir, integrando um conjunto de alinhamentos regionais com significado mágico-religioso, englobado, desde muito cedo, nas crenças arcaicas dos grupos humanos que colonizavam esta região.

Este antigo marco terá sido encontrado pelos primeiros povoadores. O espaço sacralizado pelo símbolo pagão, onde foi encontrado pela primeira vez, é mantido como cemitério até à actualidade preservando, assim, o seu significado religioso.

Por volta de 1514, quando D. Manuel concedeu novo foral à vila da Pederneira, foi erguido na praça principal um pelourinho ao estilo manuelino. A Pederneira preservou o estatuto concelhio até 1855, altura em que, por declínio demográfico face à evolução recente da cosmopolita Praia da Nazareth, foi anexado ao concelho de Alcobaça até à criação do município da Nazaré em 1912. Em 1886, o tronco fossilizado foi transportado para a Praça Bastião Fernandes a partir do antigo cemitério, em substituição do antigo pelourinho manuelino então destruído, como que apelando a um sentimento autonómico. Deste modo, a partir de 1912, torna-se no único exemplo do mundo em que um fóssil foi aproveitado directamente como símbolo popular da soberania local.

O tronco-pelourinho da Pederneira encontra-se classificado desde 1933 como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-lei n.º 23122, DG231, com significado histórico-cultural.

 

Informação Câmara Municipal da Nazaré